quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ela nunca vai embora

Ela tá quando eu acho que acabou. Mas tá também quando começo qualquer coisa. Naquele gostinho de novidade, expectativa de emprego novo, frio na barriga ao primeiro encontro, no cheiro de roupa ou boca nova. Ela me abraça forte nos domingos de tarde, quando o sol bate no meu rosto, mas não é ele que me enche de calor, é ela que pulsa quente no meu sangue e mostra o quanto viver é bom.
Ela me chama pra dançar quando toca minha música preferida, com o garfo como microfone na cozinha e inventando passos de danças engraçados. Estranhamente ela me acompanha numa música depressiva, naquela sessão “masoquismo musical” apenas pra me lembrar que se eu choro é de saudade e não de arrependimento. Ela sorri pra mim sem dente, tem umas mãozinhas gordinhas e é cheia de dobrinhas. Outras vezes ela é velha e bastante enrugadinha, anda devagar, mas passa a mão no meu cabelo e fala que “me ama mais”.
Tem dias que ela demora a aparecer, aparece à noite quando coloco minhas pantufas de bola, meu pijama surrado, me olho no espelho e vejo que a menina do quadro, em cima da minha cama sente orgulho e sorri da mulher que ela se tornou, mesmo de pijama e pantufas. Ou quando estou no meio de uma aula chata, quando ela me faz lembrar que falta pouco tempo pra esse tempo de aula chata acabar e aí pra não acabar logo, eu aproveito cada segundo da aula chata.
Algumas vezes ela some por uns momentos e me deixa alucinada. Procuro nos lugares e ela nunca está. Porque ela não gosta de ser procurada, ela gosta de fazer surpresa.
Eu estava lá, desesperada naquela sala, beirando o desespero da sua espera quando eu a encontro debaixo do braço dele, entre os sons das gargalhadas provocadas pelas minhas mãos. Agora eu já sei que ela não aparece em finais de histórias de amor, nem no começo também. Ela sorri em plena terça-feira a tarde quando você foge do trabalho, ou no meio daquela briga em que aparece a imensa vontade de gargalhar e achar aquilo tudo patético.
Ela tá nas minhas fotos antigas, no meu álbum super atual on-line, na minha caixa de entrada do gmail quando menos espero, no chocolate no fundo do copo, no cebolitos devorado ás pressas antes de ir pra faculdade,no meu IPOD que não aumenta o volume,no carinho na bochecha que meu pai me dá antes de ir trabalhar,no ralo do meu banheiro misturada com alguns fios de cabelo –porque é ele que leva todo cansaço, dor e sono embora- numa caixa decorada na minha gaveta cheia de cartinhas de amor.Tá na surpresa colorida deixada por minha mãe antes de eu acordar -e bem vinda nesses últimos dias que eu só vestia preto.Ela mora no meu armário, quando lembro de uma roupa bacana que nunca mais usei.
Ela é a pessoa mais insistente que eu conheço. Sobrevive a gritos, choros compulsvivos, broncas do chefe, sentimentos de culpa e de impotência.
Ela implora pra mim. Implora um pouco de atenção, porque como tudo que é bom na vida, ela não é exagerada.
A felicidade é sutil e se você perceber ela tá sempre com você.

3 comentários:

Leandra Postay disse...

Gostei muito do texto. Mesmo mesmo. Primeira vez que apareço por aqui e fico satisfeita por ter encontrado um caminho até seu blog.
Algumas vezes dá preguiça procurar a felicidade. Mas é só seguir as pegadas que ela deixou e gritar um pouco mais alto. Mesmo se resolve passar um tempo fora de casa, pode apostar que numa sexta-feira qualquer ela reaparece. Né não?

Marília é um nome muitíssimo bonito.

Kamilla Barboza disse...

Texto lindo, Mazinha.
Você, como sempre, surpreendendo com idéias e idéias do "Mundo da Marília"!

A felicidade?
Logo alí...Aqui...Agora!
A gente escolhe ser feliz.

*eu precisava ler esse texto agora. Não haveria hora mais oportuna. Obrigada!

Beijo.
*Longe dos olhos, perto do coração!

Mayara disse...

Amiga, suas palavras estão tão bem colocadas...
deu vontade de ver vc me falando dessas coisas de felicidade com sua voz calma e seu sorriso loiro.
=)
era tão bom pra minha melancolia...
Eu posso dizer que por sua causa eu mudei bastante...me fez bem.
vc me faz bem.
fechamos nossos sonhos como ngm! (L)